quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

Entrevista com Mike Christian


MIKE CHRISTIAN, 41 anos, consagrado ex-atleta da IFBB, fala abertamente sobre esteróides anabolizantes, hormônio do crescimento, insulina e diuréticos e dá detalhes sobre sua experiência com eles. O homem que ficou conhecido como o "Iron Warrior" agora revela a Jim Schmaltz, Escritor Chefe da revista Flex, seus medos, seu drama pessoal e sua postura contra as drogas.

P: Quando começou a usar esteróides?
M.C.: Comecei em 79.

P: Você os injetava?
M.C.: Não, eu tinha medo. No começo só usava cápsulas.

P: Você se lembra qual droga era?
M.C.: Anavar.

P: O que o convenceu a usar esteróides?
M.C.:Inicialmente eu estava assustado com a idéia. Levei um bom tempo até começar a usá-los, afinal estava me saindo bem nas competições. Foi em Portland que um rapaz chegou à mim e disse: "Tome isso e você se tornará profissional", eu respondi que não. Após um tempo, eu cedí aos apelos dele.

P: Quanto você usou?
M.C.: Usava uma dosagem bastante pequena de Anavar, 2,5 miligramas, apenas 4 ou 5 vezes por dia. Ganhei 10 libras (4,5 quilos) depois de um mês. Parece uma dosagem bem baixa se comparada com os padrões atuais. Realmente, não era nada, mas meu corpo respondia bem. Meu biótipo é daqueles que mesmo com um pouco funciona. Vencí meu primeiro show, depois disso e decidi passar a injetar.

P: O que sentiu na primeira vez que usou uma injeção?
M.C.: Eu não sabia como usá-las, então o próprio fornecedor aplicou a dose. Inicialmente foi uma dor leve, mas na semana seguinte foi bastante dolorido. Doeu por três semanas com apenas uma injeção.

P: O que foi injetado?
M.C.: Eram 250 miligramas de Sustanon (uma combinação de vários tipos de testosterona). Com isso ganhei outras 10 libras. Daí passei a usar tanto as cápsulas quanto as injeções e ganhei mais 20 libras, porém estava muito inchado. Eu era forte e muito agressivo na academia.

P: Em que momento notou esta agressividade?
M.C.: Isso ocorreu no segundo dia após a injeção, então achei que devia ser psicológico. Pensei: "Tomei uma injeção, agora sou o Super Homem. Vou vencer todas as competições". Lembro de tirar a camisa na academia só para assustar a concorrência. Era capaz de dizer prá eles saírem do meu caminho.

P: Você venceu estes shows?
M.C.: Sim, mas os juízes passaram a me perseguir e depois tive más colocações. Eles queriam me ensinar uma lição, porque eu andava me achando o máximo. Depois disso me mudei para Los Angeles.

P: Sua sorte mudou na Califórnia?
M.C.: Totalmente (risos). Ganhei três ou quatro competições seguidas, então concluí que eles (juízes de Portland) estavam me derrubando.

P: E os esteróides?
M.C.: Depois da mudança para Los Angeles, conheci um médico que me ensinou sobre drogas, exames de sangue e tudo mais.

P: Como encontrou este médico?
M.C.: Ele me encontrou. Foi no começo de 1983. Ouviu falar sobre mim na Gold's Gym e disse que queria trabalhar comigo, que eu tinha potencial. Negociamos e trabalhamos para o Nationals de 1984 (Mike Christian foi o campeão geral). Ele sabia exatamente o que fornecer prá mim.

P: Que tipo de coisas ele fez por você?
M.C.: Ele detectou como era meu metabolismo. Eu tinha que fazer exames de sangue a cada 10 dias nos primeiros três meses, daí podíamos saber quando meu sistema ligava ou desligava. Toda manhã, tinha que tirar a temperatura entre outras coisas, assim ele saberia exatamente como estava meu corpo. Depois, passei a fazer exames de sangue a cada seis semanas, checava meu fígado, pressão arterial, tudo. A partir daquele ano, sempre controlei meu sangue.

P: Por quanto tempo trabalhou com este médico?
M.C.: Trabalhei com ele por três anos. Ele ganhou muito dinheiro por minha causa. Após o Nationals ele me pediu prá divulgar que havia me ajudado, então ele iria vender esteróides para essas pessoas. As vendas dele dispararam.

P: Porque acabou a parceria?
M.C.: Ele foi pego e acabou na cadeia.

P: Você achou outro médico?
M.C.: Não. Depois de um tempo já sabia como ler meus próprios exames e análise sanguínea.

P: Que tipo de substâncias você estava tomando?
M.C.: Meu corpo funciona 70/30 (70% anabólico e 30% androgênico). Somos todos diferentes. A maioria dos bodybuilders é o oposto. Inclusive conheço um profissional da atualidade que é 70% androgênico e 30% anabólico. Tive sorte de aprender isso no início.

P: Como aprendeu as necessidades do seu corpo com relação aos esteróides?
M.C.: Eu experimentei no começo da minha carreira. Aprendi a conhecer meu corpo. Algumas coisas não funcionaram comigo, me causaram náusea e pressão alta. Tinha medo de usar esteróides, então quando decidi usar não usava cinco tipos diferentes ao mesmo tempo, como os caras fazem hoje em dia. Aí é que está a parte preocupante. Se você usa cinco ou seis tipos de drogas juntas como saberá o que está funcionando? Eu só tomaria dois ou três tipos em um intervalo de três ou quatro semanas.

P: Descreva um ciclo típico.
M.C.: Usei um ciclo de oito semanas, enquanto me preparei para o Nationals de 1984. Nas primeiras quatro semanas, tomei Sustanon e Primobolan, que são esteróides de origem oleosa. Também tomei Dianabol e Anadrol 50, que são pílulas. Vamos dizer, eu tomaria 250 miligramas de Sustanon semanalmente e 10 de Dianabol por dia. Isso me fazia muito grande e forte, então usava para ficar grande. Meu peso subia logo 10 a 15 libras. Muito disso era água, talvez 5 libras, pois são drogas ricas em androgênios e causam retenção de água. Nas últimas quatro semanas eu eliminava as drogas de base oleosa, para me livrar do visual inchado. Usei os esteróides baseados em água ou de rápida absorção, como: Primobolan acetato, Anavar, Testosterona de base aquosa e Winstrol-V (este último, famoso por ter sido usado por Ben Johnson nas Olimpíadas de Seul em 8. Mesmo que variasse meu ciclo, sempre usava esta divisão: primeira metade, drogas de lenta absorção e na segunda metade, rápida absorção. Mais tarde, quando fiz ciclos de 12 semanas: mesmo processo, dividido em seis semanas.

P: Qual a diferença entre esteróides oleosos e aquosos?
M.C.: Ambos são injetáveis, mas o que tem origem aquosa entra e sai do seu sistema relativamente rápido. Percebi como me livrar do excesso de água do meu corpo antes de uma competição.

P: Por que você misturaria estas drogas de lenta e rápida absorção?
M.C.: Você não pode insistir usando só as de longa absorção. Isso é que muitos caras não percebem atualmente. Elas podem desligar alguns de seus sistemas. Você toma uma injeção uma semana, depois na próxima, e aí em diante, e tudo vai se acumulando no seu sistema. Você não pára porque a absorção é lenta. Pensa que só está injetando 250 miligramas de cipionato, mas as doses anteriores estão lá. Depois de seis semanas: Pronto! Seus receptores desligam e o que você está injetando não está acrescentando nada.

P: Eles não entendem que estão desligando seus sistemas?
M.C.: Claro! Estão perdendo dinheiro. Eu fiz apenas 8 ou 12 semanas de ciclo, mas os caras, atualmente, estão fazendo 16. Estão usando toda essa testosterona que é altamente androgênica e que não funciona a maior parte do tempo. Drogas têm um período de vida, é preciso conhecê-lo.

P: Como você sabe que seu sistema está desligando?
M.C.: Percebia quando tinha muita acne. Isso é sinal de muito androgênio. O corpo não pode absorver toda a bomba, então prá onde vai? Aparece na sua pele. Mas somos todos diferentes, para alguns caras o sinal de alerta é o baixo desejo sexual. Se o seu metabolismo apressa, quer dizer que seu sistema deve estar ok.

P: Você já se meteu com hormônio do crescimento?
M.C.: Já. A primeira vez foi em 1983, antes do Mr. California.

P: Funcionou com você?
M.C.: Eu fiquei super definido. Meu metabolismo estava rápido e o hormônio acelerou ainda mais meu metabolismo. As vezes minha dieta tinha zero carboidratos e isso deveria fazer eu perder músculo, mas mantive minha musculatura bastante definida porém sem grandes ganhos. Isso porque não usei insulina.

P: Que tipo de hormônio do crescimento era este?
M.C.: Acho que era Ascellecrin (substância retirada da glândula pituitária dos cadáveres, não é mais manufaturada). O cara que arrumou prá mim disse que foi roubada de algum lugar e por isso consegui bem barata. Tomava duas vezes ao dia, um vidro por dia. Basicamente, tomava como se fosse água. Mais tarde na minha carreira, usei o hormônio do crescimento do laboratório Lilly.

P: Você já usou insulina?
M.C.: Sim, usei uma vez após o Mr. California em 83. Combinei com o uso de hormônio do crescimento.

P: Porque só o fez uma vez?
M.C.: Alguém me falou sobre a dosagem a ser tomada e eu usei uma seringa comum e, na verdade, deveria ser uma seringa de insulina. Resultado: quase morri.

P: Você acabou num hospital?
M.C.: Não, mas senti como se fosse morrer. Fiquei apavorado, não conseguia nem ficar sentado de tanta agitação. Tinha que comer cereal e doces a cada três minutos. Quando comia me sentia melhor e achava que iria passar. Depois de três minutos tinha que comer de novo. Isso durou umas seis horas durante toda a noite. Comi tudo que tinha na geladeira.

P: Então esse foi o fim da sua experiência com insulina?
M.C.: Sim, com certeza.

P: E sobre diuréticos?
M.C.: Nunca fui um fã de diuréticos. Eu seguia a moda antiga e parava de ingerir sódio três dias antes de competir. Nem mesmo escovaria meus dentes para evitar o sódio da pasta. Zero de sódio. Cheguei a beber litros de água destilada. As vezes sentia câimbras, pois tem que se ingerir um mínimo de sódio, mas eu estava muito definido o tempo todo. Era assim que ficava em forma. Parece que você não usava uma variedade de drogas. Sentia que se misturasse muitas drogas, especialmente esteróides e diuréticos, não saberia o que iria acontecer com meu corpo. Além da insulina e do açúcar no sangue subindo e descendo, nervosismo antes de um show, sem saber o que essas bombas fariam com meu corpo. Daí ainda iria usar um diurético? A gente não tem a menor idéia do que pode acontecer.

P: Insulina e diuréticos eram usados por bodybuilders dos anos 80?
M.C.: Sim, com certeza, mas não usavam tanto como nos dias atuais. A combinação dos dois surgiu em 83 e 84, e pouca coisa ruim aconteceu para as pessoas. Muitos caras tinham medo disso, daí houve uma queda. Então em 91 voltou e hoje em dia é a grande moda.

P: Ainda acha que é perigoso?
M.C.: Sim. Acho que diuréticos e insulina são as coisas mais perigosas. Você pode abusar de muitas drogas, e acho que os caras tem controle sobre os esteróides. Estão começando a perceber que quantidade não significa qualidade, por isso nem todos estão usando mega doses. A insulina age sinergéticamente com os esteróides e os torna mais efetivos. Já os diuréticos retiram toda a água. Você não sabe de onde está tirando. Do coração? Dos órgãos?

P: Você manteve um mesmo nível de uso de drogas durante toda sua carreira?
M.C.: Variava. Sabendo o que funciona para o próprio corpo, depois se experimenta.

P: Quando você parou de usar esteróides?
M.C.: Minha última vez foi há 4 ou 5 meses. Queria estar em forma para uma sessão de fotos e também mostrar que poderia fazer de novo se quisesse.

P: Você tomou medidas para minimizar os estragos no seu corpo?
M.C.: Sim. Antes das competições e principalmente depois. Ouvi dizer que se tomasse suplementos nutricionais ajudaria a desintoxicar o fígado e os rins. Se você toma drogas tem que ter um acompanhamento médico.

P: E quando você terminava um ciclo?
M.C.: Eu abandonava totalmente as drogas, o que aliás não é recomendável, mas estava tão cansado das drogas que só queria me ver livre delas. Eu recomendaria diminuir gradualmente e tomar HCG (human chorionic gonadotropin) por uma ou duas semanas.

P: Tem medo que os esteróides tenham causado danos a seu corpo?
M.C.: Penso que tudo que é excessivo causa danos ao corpo. Mesmo que beba muito café vai ficar muito ativo. Mas não acho que cheguei a abusar, nunca usei uma mega dose. Meu corpo funcionava melhor com pequenas doses.

P: Sua personalidade mudou enquanto usava esteróides?
M.C.: Sim. Estava com uma namorada por um bom tempo e abusava mental e fisicamente dela. Ela me disse que notou uma mudança dramática em mim após meu início com esteróides. Ela sabia se eu estava usando ou não, mas nunca notei esses anos todos.

P: Isso é comum com outros bodybuilders?
M.C.: Diria que sim para 80% deles. A pior parte sobra para as namoradas. Ninguém sabe pelo que elas passam.

P: Você teve problemas com entorpecentes, como foi documentado na Flex. Acredita que eles fazem mais mal do que esteróides?
M.C.: Claro. Sem dúvida.

P: Acha que o uso de um contribui com o outro?
M.C.: Sim, com certeza.

P: Você usou as drogas do Bodybuilding primeiro. Acha que isso o fez mais sucetível ao uso de drogas comuns?
M.C.: Sim. Depois que perdi o medo de agulhas, injetava cocaína. Depois que me acostumei a injetar uma droga, não havia mesmo uma diferença. Droga é sempre droga.

P: Em que momento o uso de drogas tornou-se incontrolável no Bodybuilding?
M.C.: Acho que no começo dos anos 90, aliás fim dos anos 80, quando o visual definido apareceu. Isso fez as coisas mudarem de dimensão. Cara, as coisas que tomam hoje em dia para se preparar para um show...

P: O que é pior, a quantidade nas dosagens ou os tipos de drogas?
M.C.: Ambos. Bom, a quantidade, considerando que, tomando mais, você melhora. Depois tem a insulina e o hormônio do crescimento, e outras combinações. As pessoas estão aprendendo quais drogas combinar.

P: Você concorda que é possível construir um ótimo físico com baixas dosagens?
M.C.: Totalmente. Fiz isso durante anos. Metade dos caras atualmente tem a idéia errada de que é preciso usar doses altas. Número um é genética, sem menor discussão. Número dois é malhar pesado na academia. Número três é conhecer seu corpo e química e colocar isso junto.

P: Acredita que vai haver testes anti-doping nas competições de Bodybuilding?
M.C.: Agora que isso aconteceu com o Andreas Munzer (que morreu em março de 96 aos 31 anos, menos de uma semana depois de terminar em sétimo no San Jose Pro), o teste deve ocorrer na Alemanha, o que deve gerar o mesmo no resto da Europa. Tudo indica que vai ser assim.

P: Você acha que deveria haver teste anti-doping?
M.C.: Essa é uma questão difícil. Tem que haver limite. Se houver um teste de drogas, impedirá essa loucura. Diuréticos e insulina estão matando essas pessoas. Uma vez entre os cinco melhores você acha que tem que usar mais para ser o número um. Uma vez lá no topo, o que vamos dizer prá ele? Pare? Algo tem que ser feito mas tenho medo que essas competições com teste não funcionarão. A WBF (extinta federação) foi um exemplo: Nós tentamos. Uma vez que você tenha visto os monstros, e se acostumado com eles, não vai mudar.

Um comentário:

Walter disse...

Muito boa a entrevista...acompanhei a carreira do Mike, ele era um grande fisiculturista...acho que suas pernas que eram sua parte fraca...falando sobre as drogas,acho que hoje em dia,isso virou banal, pois qualquer cara entra na academia e quer ficar grande de uma hora pra outra.
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